Somos um vaso quebrado sem conserto, despedaçado em milhões de pedacinhos que voaram por todos os lados, encontrando parada somente no nosso coração. Eles nos espetam todas as vezes que nós tocamos, são dolorosos lembretes da distância, da incompatibilidade de sangue que nos une. Por que? Por que emprestante o ventre para mim? O seu leite foi fel, fui cobra criada, natimorta para você. E na primeira oportunidade te feri mortalmente, irreversivelmente: fiz-te cega. Você, então, só pode sentir o meu cheiro azedo de réptil e recuar enojada. Com o tempo, o destino, rindo baixinho do nosso infortúnio como um moleque levado, achou justo interferir: fez meu rosto à sua semelhança, escondeu o que para você eram feições de cobra e, ironicamente, copiou os seus cabelos em mim...
Você me vê em seu espelho e te (me) odeia. Você vê, nem falamos a mesma língua, as suas palavras não encontram caminho até mim, perdem-se no caminho. Meus sussurros nunca significaram nada para você, são chiados sem sentido. Somos, no fim de tudo, duas partes estranhas unidas por um cordão umbilical, há muito extinto, porém frágil demais para nos aproximar e real demais para nos separar de vez. Temos o mesmo rosto, nossas vozes até soam a mesma, até da sua cegueira - para o amor - eu compartilho. Mas não, não e não. A culpa é toda...nossa! Não nos enganemos, afinal, eu não pareço mesmo com você...
Repito: Não procure em mim o que não pode achar.
Adeus,
C.
Júlia, seria C. de Calegari???
ResponderExcluirPorque vejo, nesse texto, algo que ele já disse muitas vezes para mim, e que repetiria em qualquer rompante de ira. Entretanto, sou sincera quando digo amá-lo muito. E sempre amei, exceto "fora da razão".