segunda-feira, 5 de abril de 2010

Devaneio


Ilha do Medo (Shutter Island) - Martin Scorsese



Mais rápido mais rápido - seus pés parecem grudados no chão, por mais que se esforce, mal consegue sair do lugar - mais rápido mais rápido - ele pode ouvir seu coração batendo cada vez mais veloz, seu sangue ferve, enquanto ele cria raízes no concreto, o suor escorre pelo seu rosto e costas, molhando a camisa, se tivesse tempo poderia sentir a umidade do suor amenizando a noite extremamente quente, mas isso nem lhe passa pela cabeça, precisa correr, correr sem parar em direção a luz, ao movimento, sair da escuridão. Só ele conhece a verdade, portanto só ele pode prever o perigo, todos estão cegos dançando em círculos, enquanto ele vê a luz e enxerga o que ela revela.

Falta lhe ar, suas pernas doem, ele tem medo de olhar pra trás e as luzes ao longe lhe dão ataques de vertigem, mas ele não pensa em parar, nunca em parar, seu destino não foi alcançado...Não, que ninguém pense que esse homem é qualquer coisa parecida com um herói, ele é um covarde e a morte lhe parece mais atrante ao combate, deseja com toda a sua força sua cegueira de volta, gostaria de recomeçar a dança, mas o que lhe resta é a corrida. O que mais poderia fazer afinal ? Voltar ? É inútil combater a alma das coisas ... Ele é covarde, mas não é burro. É preciso se misturar com os outros e fingir-se de cego mais uma vez.

Um dia no meio da multidão, a verdadeira luz surgirá e o que era claridade se revelará como escuridão e o que era visão se revelará como cegueira e todos se perguntarão como tudo aquilo fora escondido por tanto tempo, enquanto vivíamos dançando pelas ruas inseguras, cheias de gente como a gente, e só ele saberá a verdade desde o começo.

- Me deixa entrar !
- Senta, toma um pouco de água...
- Obrigado.
- O que você viu ?
- O de sempre...
- Tá perto ?
- Essa merda tá mais perto do que você pensa.

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